Inflamação causa câncer? Entenda riscos silenciosos e como prevenir
Inflamação causa câncer? Entenda riscos silenciosos e como prevenir Identificar com precisão qual é a causa de diversos tipos de câncer ainda é um desafi...
Inflamação causa câncer? Entenda riscos silenciosos e como prevenir Identificar com precisão qual é a causa de diversos tipos de câncer ainda é um desafio para médicos e cientistas. Fatores como genética, tabagismo e sedentarismo, por exemplo, podem influenciar no desenvolvimento de tumores. Mas um processo natural do corpo também pode ter papel importante nessa doença: a inflamação. ➡️Uma revisão de estudos publicada em 2019 na revista científica "Annals of African Medicine" mostrou que até 20% dos tumores são causados por inflamações crônicas. Ainda que esse processo seja relevante no desenvolvimento de alguns tipos de câncer, os especialistas ressaltam que nem toda inflamação vai se tornar um tumor. "A inflamação é uma resposta natural do corpo para se defender de algo errado — uma infecção, uma lesão, uma irritação. O problema é quando essa resposta não se desliga", analisa o médico oncologista do A.C. Camargo Cancer Center, Felipe Coimbra. Quando uma inflamação se arrasta por meses, há um desgaste das células e do tecido ao redor da região lesionada, o que pode dar origem a um câncer. (entenda mais abaixo) LEIA MAIS: Vacinas de mRNA contra a Covid-19 podem ‘reprogramar’ o sistema imune e potencializar o tratamento do câncer Com terapias modernas, câncer caminha para se tornar doença crônica controlável, dizem médicos Inflamação e câncer Mesmo que a inflamação seja uma resposta fisiológica esperada do organismo, ela deve ser finita, com o tecido voltando à sua forma original. Quando esse processo se torna algo crônico, as células estão em constante regeneração. João Viola, coordenador de pesquisa e inovação e vice-diretor geral do Instituto Nacional do Câncer (INCA), explica que esse é o principal motivo para tumores se formarem em locais com inflamação crônica: o aumento na proliferação celular. Felipe Coimbra, que também é líder do Centro de Referência em Tumores do Aparelho Digestivo Alto do A.C.Camargo Cancer Center, detalha mais essa relação. "Nesse processo, o organismo tenta se regenerar o tempo todo, e cada nova divisão celular aumenta a chance de erros (mutações) no DNA. É assim que, com o tempo, podem surgir mutações capazes de dar origem a um tumor", analisa. Inflamação crônica e o risco de câncer. Arte/g1 Viola ainda acrescenta que as células inflamatórias estão frequentemente presentes no tecido tumoral. "A inflamação tem impacto em todas as fases de tumorigênese: iniciação, progressão e metástase", alerta. 👉Segundo os especialistas, há alguns tipos de câncer que são mais comumente associados com inflamações crônicas: Câncer de fígado - pode surgir em pessoas com hepatite viral crônica ou cirrose. Câncer de estômago - tem relação com infecção prolongada pela bactéria Helicobacter pylori, que causa problemas como gastrite e úlcera. Câncer de colo de útero - tem relação direta com o HPV. Câncer de intestino - doenças inflamatórias como retocolite ulcerativa e doença de Crohn aumentam o risco de tumores. Câncer de esôfago - risco aumentado em pessoas que têm refluxo crônico. Câncer de pulmão - em fumantes, o tabaco provoca uma inflamação contínua que pode levar ao desenvolvimento de alguns tipos de câncer. Inflamações crônicas podem levar ao desenvolvimento de tumores. Freepik LEIA TAMBÉM: Com terapias modernas, câncer caminha para se tornar doença crônica controlável, dizem médicos Como a descoberta premiada com o Nobel abriu caminho para novas terapias contra o câncer Problema silencioso Em um contexto em que uma inflamação que se estende por meses pode levar a problemas mais sérios, como câncer, a ausência de sintomas bem definidos é uma questão preocupante, segundo os oncologistas. "Infelizmente, muitas inflamações crônicas são silenciosas. Quando dão sinais, eles costumam ser vagos — cansaço, desconforto abdominal, perda de apetite, emagrecimento sem motivo claro", afirma Coimbra. Em outros casos, o paciente pode ter sintomas mais localizados, como: Dor persistente Alteração no funcionamento do intestino Refluxo frequente Tosse que nunca passa "O corpo costuma avisar, mas de forma sutil. O segredo está em não normalizar esses sintomas e buscar avaliação médica", recomenda o oncologista. ⚠️Os especialistas ainda pontuam que o alerta vem quando os sintomas se tornam contínuos, progressivos ou começam a afetar o dia a dia. Dores que se tornam constantes ou desconfortos que evoluem para uma dificuldade para comer, por exemplo, podem indicar uma transformação no tecido inflamado. Nessas situações, exames simples podem identificar lesões precoces e permitir que o tratamento se inicie o quanto antes, se for necessário – algo essencial para o sucesso do tratamento contra o câncer. Influência dos hábitos Embora algumas pessoas possam ser mais suscetíveis a inflamações crônicas, os hábitos ainda influenciam bastante nesse processo. "A rotina moderna, muitas vezes, trabalha contra o nosso corpo. O sedentarismo, o excesso de alimentos ultraprocessados, o álcool, o tabagismo e o estresse mantêm o organismo em estado de inflamação constante", comenta Coimbra. Além disso, doenças crônicas como obesidade e diabetes também podem levar a inflamações persistentes. Considerando isso, Viola indica que a busca por hábitos saudáveis é o melhor caminho para evitar inflamações e, consequentemente, reduzir o risco de desenvolver um câncer associado a esse processo. 🥗Entre as principais recomendações dos especialistas, estão: Manter o peso sob controle Praticar atividade física Dormir bem Ter uma alimentação rica em frutas, legumes e fibras Evitar ultraprocessados Limitar o consumo de carne vermelha Não fumar Fazer exames de rotina "Mais do que evitar o câncer, é sobre cuidar do corpo antes que ele peça socorro", recomenda Coimbra.